O narrador principal (mas não exclusivo) das centenas de fragmentos que
compõem este livro é o "heterônimo" Bernardo Soares. Ajudante de
guarda-livros na cidade de Lisboa, ele escreve sem encadeamento
narrativo claro, sem fatos propriamente ditos e sem uma noção de tempo
definida. Ainda assim, foi nesta obra que Fernando Pessoa mais se
aproximou do gênero romance. Os temas não deixam de ser adequados a um
diário íntimo: a elucidação de estados psíquicos, a descrição das
coisas, através dos efeitos que elas exercem sobre a mente, reflexões e
devaneios sobre a paixão, a moral, o conhecimento. "Dono do mundo em
mim, como de terras que não posso trazer comigo", escreve o narrador.
Seu tom é sempre o de uma intimidade que não encontrará nunca o ponto de
repouso.
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